sábado, 3 de julho de 2010

Métodos de Recolha de Dados I


Quando o investigador parte para o terreno tem de ter definido um plano de acção estruturado que lhe serve de orientação ao longo de todo o processo de investigação.
Um dos aspectos a contemplar, nesse plano de acção, será a forma como se irá processar a recolha de dados. O inquérito – segundo Ghiglione & Matalon (2001) forma de interrogar indivíduos tendo em vista generalizações - é uma das técnicas de recolha de dados mais utilizada, pelo que a minha reflexão irá incidir no inquérito por entrevista e por questionário.
Os investigadores recorrem ao inquérito por entrevista e por questionário sempre que pretendem transformar em dados a informação directamente comunicada por uma pessoa (Tuckman: 2005). Estes ao elaborarem o questionário e a entrevista devem ser prudentes e ter sempre presente três critérios que Tuckman (2005) define na seguinte forma:
1. Até que ponto pode uma questão influenciar os sujeitos a darem uma boa interpretação de si mesmos?
2. Até que ponto pode uma questão influenciar os sujeitos a tentarem antecipar o que os investigadores querem ouvir ou encontrar?
3. Até que ponto pode uma questão pedir uma informação aos sujeitos, sobre si próprios, que eles podem não saber?
Inquérito por entrevista

O inquérito por entrevista é um dos métodos de recolha de dados utilizados ao nível da investigação qualitativa. Segundo Bogdan & Biklen (1994), uma entrevista permite recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador construir uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam o mundo. Assumindo assim, o guião da entrevista um papel muito importante utilizado para recolher informações relevantes.
De acordo com o objecto em estudo o investigador tem que optar por um dos tipos de entrevista – entrevista estruturada, semi-estruturada e não estruturada.
Na entrevista estruturada o entrevistado responde a um conjunto de questões previamente definidas dentro de um conjunto limitado de categorias de resposta. Este tipo de entrevista é utilizado sempre que se pretende obter informações quantificáveis de um determinado número de entrevistados permitindo um tratamento estatístico posterior.
Em contrapartida, na entrevista não estruturada a interacção verbal entre entrevistado e entrevistador centra-se em torno de grandes temas, sem perguntas específicas e respostas codificadas. Este tipo de entrevista pressupõe que o entrevistador seja experiente, não deixe transparecer a sua opinião em relação ao tema a abordar e que saiba ouvir.
A entrevista semi-estruturada tem como pilares a entrevista não estruturada e a estruturada, isto é, assenta na sua globalidade nas características da entrevista não estruturada, porém os temas não são tão abrangentes, tornando-se o guião de investigação um elemento chave na condução da entrevista.
Sempre que recorre à entrevista, o entrevistador deverá ter um conjunto de procedimentos que permitem operacionalizá-la e tirar o máximo de partido da mesma.
O inquérito por entrevista é um processo de recolha de dados útil, o qual pressupõe uma maior diversidade de questões e consequentemente de respostas, as quais se revestem de uma maior eficácia visto que o entrevistador pode voltar a colocar as que compreendeu incorrectamente, podendo recorrer a comentários do tipo: “O que quer dizer com isso?”, “Não tenho a certeza se estou a seguir o seu raciocínio. ”, “Pode explicar melhor?”, como referem Bogdan & Biklen (1994: 136), assumindo um papel interventivo ao longo da entrevista. Outro dos aspectos a destacar é o facto de existir uma maior flexibilidade quanto à duração da entrevista, todavia está não deverá ser muito longa, uma vez que o entrevistador se pode cansar e não colaborar, dando respostas pouco consistentes. Este método de recolha de dados possibilita ao entrevistado exprimir-se oralmente expondo os seus pontos de vista, recorrendo à sua linguagem.
Porém, o inquérito por entrevista, apresenta alguns inconvenientes entre eles destaco: (i) o tempo despendido para transcrever, analisar e sistematizar toda a informação, o que em parte limita a número de indivíduos a seleccionar por amostra; (ii) a possibilidade de ocorrência de enviesamentos quer pela actuação pouco cuidada do entrevistador, quer pelas respostas dadas, uma vez que o entrevistado pode responder aquilo que considera correcto e socialmente aceite, contudo não são atitudes típicas na sua prática diária, o que pode comprometer o processo criando problemas de fiabilidade.
Bogdan, R.; Biklen, S. (1994). Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto Editora.
Ghiglione, R. & Matalon, B. (2001). O inquérito: teoria e prática. (4ª ed.). Oeiras:
Celta Editora.
Tuckman, Bruce W. (2005). Manual de Investigação em Educação. (3.ªed.). Serviço de Educação e Bolsas: Fundação Calouste Gulbenkian

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